A Mobilização estudantil como estratégia pedagógica é quantidade, mas também é qualidade. Juntar muita gente é fundamental para gerar mudanças sociais, modificar praticas pedagógicas dos professores, mudar comportamentos dos estudantes, mudar a escola. Com bastante gente a mobilização fica mais sólida e consistente. Um dos papéis da mobilização estudantil é fazer com que muito estudantes participem. Mas ao mesmo tempo, devemos considerar que “fazer parte” não é o mesmo que “tomar parte”. E que “ser parte”, por sua vez, representa um tipo de envolvimento ainda mais profundo. A participação é estratégica para a consolidação de uma cultura de participação na sala de aula, na gestão escolar e pedagógica e no processo de aprendizagem do estudante sanfranciscano.
Assim, a prova de fogo da mobilização não é só quantos estudantes participam, mas também como elas estão envolvidos. Às vezes um grupo pequeno, mas com pessoas altamente comprometidas, é muito mais eficiente na mobilização do resto do grupo do que outro com centenas de desinteressados.
No entanto, apesar de serem fundamentais, as reivindicações por si só, não sustentam um processo efetivo de mudança, se não tiver a solidariedade e participação da família, dos funcionários, dos professores e da administração. É por isso, que a mobilização de toda a comunidade escolar está articulada na mobilização estudantil. É fundamental que além de reinvidicações, a mobilização construa planos de trabalho, um planejamento estratégico e um plano plurianual, para que as metas de curto, médio e longo prazo, e todo processo de mobilização seja pautado também pelo alcance de objetivos articulados na política municipal de educação e no seu projeto pedagógico. Assim, pela construção de um projeto de futuro para a escola, para a gestão e para as praticas em sala de aula.
Mobilização é paixão, mas também é razão. O educador colombiano Bernardo Toro costuma dizer que mobilizar é “convocar vontades”. É neste sentido que no PIMQUE, participar de um processo de mobilização estudantil é um ato de desejo de mudança, de paixão, de motivação, de dinamismo e de entusiasmo. Sem dúvida, deve haver um vínculo emocional e em certo ponto até afetivo dos estudantes com o movimento, seus participantes e sua causa.
Mas o próprio Toro alerta para o fato de que a mobilização é também um ato de razão, na medida em que consciências, e não somente vontades, devem ser mobilizadas. Sentir que a participação é importante no processo educacional, no processo de aprendizagem e na gestão escolar e do sistema municipal de educação é fundamental. Mas é necessário que a comunidade escolar, e principalmente os estudantes, saibam também porque o Grêmio estudantil é importante neste novo momento em São Francisco do Conde.
Mobilização é articulação, mas também é comunicação. Um Grêmio pode distribuir panfletos, lutar por direitos dos estudantes, realizar eventos, fazer reinvidicações, produzir cartazes, etc. Esses são sem dúvida elementos imprescindíveis a um processo de mobilização. A mobilização estudantil, no entanto, não se resume a informar, nem a propaganda ou divulgação e realização de eventos. A mobilização dos grêmios pode ser importante na articulação com os estudantes na preservação do patrimônio escolar. No entanto a mobilização exige também ações de comunicação em seu sentido mais amplo, através das relações interpessoais, do diálogo e do bate papo. Desta forma o Grêmio é um espaço estratégico de reeducação das relações, quer sejam étnico-raciais e/ou de combate à intolerância religiosa, a homofobia, etc. Pois, é no dia a dia, no corpo a corpo, que a comunidade escolar é mobilizada para as mudanças necessárias.
É preciso considerar, no entanto, que nem todos os estudantes dispostos a contribuir e participar de um processo de mudança está disposto a tomar atitudes coletivas e correr esses riscos de expor suas idéias. Por isso, um processo de mobilização estudantil e principalmente no PIMQUE se sustenta pela estratégia de contemplar os diferentes grupos e tribos do universo escolar, articuladas em um Núcleo de Práticas e Ações Afirmativas, com coordenações e uma ampla articulação com a diversidade dos estudantes. Só assim as mudanças serão efetivamente asseguradas a longo prazo.
São Francisco do Conde passa por um momento de mudança em que um dos principais desafios é justamente a criação de uma cultura de participação, o empoderamento, a irradiação e a convergência.
Todos nós somos sujeitos da história, e não meros espectadores. Como já dizia Paulo Freire na década de 60, “o homem é, por natureza, um ser eminentemente transformador. Não é a acomodação, e sim a capacidade de transformar a realidade que caracteriza o modo de ser do homem no mundo”. Assim, empoderar no processo de mobilização do PIMQUE, significa dar vigor a essa chama, essa energia que a história e as circunstâncias às vezes conseguem enfraquecer. O empoderamento, portanto, é a base de todo processo de mobilização estudantil. Empoderar significa promover a iniciativa e a participação dos estudantes. Significa tirar das mãos de poucos e colocar nas mãos de muitos o poder de decidir os rumos dos processos educacionais em nosso município.
A Irradiação
Na irradiação, a raiz da palavra empoderamento vem do latim potere, que significa “energia”. Portanto, quando falamos de empoderamento, no sentido de desconcentrar o poder de decisão, estamos falando em desconcentrar energia.
Num processo de mobilização, essa idéia é fundamental. O movimento precisa se espalhar, irradiar por toda a comunidade escolar e toda a sociedade sanfranciscana. E irradiar significa pelo menos 3 coisas:
a) Abrangência quantitativa, ou seja, que cada vez mais estudantes desperte para o exercício da participação nos Núcleo de Práticas e Ações Afirmativas, em seus respectivos Grêmios.
b) Pluralidade, ou seja, que não basta só ter muitos estudantes. É preciso que o movimento se espalhe envolvendo toda a comunidade escolar e todas as tribos e grupos das escolas. Afinal, a sociedade é formada por pessoas diferentes. E os problemas educacionais, que são de todos, devem ser resolvidos por todos. Assim, o apoio e a solidariedade de todos os setores sociais à mobilização estudantil e aos grêmios (poder público, sociedade civil e setor privado), de crianças, jovens e adultos, de mulheres, homosexuais e heterosexuais, negros, brancos, religiosos, os movimentos sociais e negros e gente de todas as etnias tende a enriquecer e dar mais efetividade ao movimento em nossa cidade
c) Organização social, ou seja, que à medida que cada vez mais e diferentes grupos de estudantes aderem ao movimento, o tecido estratégico do Núcleos de Práticas e Ações Afirmativas que vai se formando no Grêmio deve ficar cada vez mais resistente e forte. Assim a criação de redes, fóruns e coordenações contribui cada vez mais para a irradiação das concepções pedagógicas da mobilização estudantil e as dimensões da modernização e democratização da gestão do sistema municipal de educação em São Francisco do Conde.
A convergência
Ter muitos e diferentes estudantes altamente engajadas participando de um movimento é muito importante. Mas também pode ser um problema se cada um ficar puxando para o seu lado, defendo interesses próprios, não compreendendo e simplificando a estratégia educacional, que envolve dimensões pedagógicas, de geração de renda e formação profissional, já que o Núcleo de Práticas e Ações Afirmativas amplia e complexifica a instituição Grêmio em São Francisco do Conde.
Assim, à luz do paradigma ampliado que discutimos, coerentes com o fundamento teórico-metodologico do PIMQUE e entendendo os elementos da gestão do sistema municipal de educação, podemos dizer que:
A Mobilização estudantil no PIMQUE e no JEEG é um processo educativo que promove a participação (empoderamento) de muitas e diferentes formas de ser estudante (irradiação) em torno de um propósito e um projeto político pedagógico comum (convergência).